27 de Outubro 2008 – Palolem, Goa
Continuo sem vontade de escrever… gostamos muito deste país, é rico, lindo, religioso, tem muitas pessoas, tem boa comida, no entanto, essas mesmas pessoas tornam-se às vezes bastante chatas e desesperadas. O seu desespero é duvidoso e ficamos a achar que os indianos são simplesmente anhados e porcos, são poucas as pessoas que sentimos aquela boa onda sem ser pelo o negócio. Irrita-me ter que pagar a alguém só porque visitiei aquele templo, ou porque tirei aquela fotografia. Há muito desespero aqui, mas não é miserável, as pessoas estão saudáveis, têm trabalho, casa e comida… é o desespero para vender algo.
Ao início não notavamos tanto isso, em Verkala é que começamos a sentir mais. Famílias inteiras desesperadas por vender o que quer que fosse das suas lojas, impressionante.
Chegada a cidade de Panjim, ficamos hospedados no fantástico hotel Nova Goa, ficamos 2/3 dias na companhia de um senhor amigo muito simpático. Fazia questão de ajudar-nos em tudo, foi fantástico Panjim é uma ciadde bem catita, mais limpa que outra cidade indiana, com igrejas, nomes de ruas e comércio português, pequenos bairros, eo rio Madovi. Old Goa, a cerca de 30 minutos de Panjim, é a representação daquilo que era a principal área de influência portuguesa. Old Goa, acaba por não ser Índia, é um canteiro gigante, feito à medida dos portugueses, perfeita demais.
Ainda instalados em Panjim, foi-nos possível visitar Hampi… simplestemente magnífico e brutal! Uma autêntica cidade museu, com origem no século xv. Hampi é um enorme conjunto de ruínas, extendidas por vales e vales. Existe um enorme cuidado na manutenção deste património, notando-se isso em inúmeros templos ainda conservados, montanhas intactas de pedras de granito, cidades longíquas, adoramos Hampi. Ao percorrer estas runínas, a cada passo que davamos respira-se história, já para não falar da vontade extrema de tirar fotografias e mais fotografias. Claro que a viagem foi super cansativa, no nosso habitual “regular bus”, esmagados e suados. Mas conseguimos!
Agora em Palolem, em plenas celebrações do Diwali, vive-se a tranquilidade destas praias serenas e bonitas, quase desertas… easy going days… ideal para o “fim” desta viagem… aliás, para preparar o fim desta viagem ou será que esta viagem não tem fim?
31 de Outubro – London Heathrow Airoport
… De volta ao ocidente, aqui estamos nós a fazer tempo para o voo que nos levará de London para Lisboa… a viagem de Mumbai correu bem, mas estamos ensonados e claro, já com muitas saudades da Índia. Olhamos á nossa volta, e é tudo tão diferente… já sentimos falta de tanta coisa… do constante abano da cabeça dos indianos, da ausência de assédio, do preço das coisas… Sinto que uma parte de mim e de nós ficou lá, algures perdidad, a flutuar por entre praias e mercados, templos, ruas e pessoas…
Sinto culpa por não termos ficado na Índia, como se estivesse a agir contra a minha vontade, contra o meu coração… A Índia é uma contradição… em tudo! Mas tal como li à dias, o que seria a luz sem a sombra, ou o mal sem o bm, o doce sem o salgado… no fundo, não são os aspectos opostos que formam o todo? Não será que para haver um ser completo esse mesmo ser tem em si aspectos diveros e opostos? Acho que a Índia é isso… por ser tão contraditória é que se torna perfeita e completa!
Como é que sentimos tanta paz e liberdade num país com pessoas tão insistentes e maçadoras?
Porquê é que sentimos um carinho tão grande pelo o país em si, quando às vezes ele nos indignava e revoltava?
Porquê que as pessoas deste país são tão felizes e satisfeitas e mesmo assim têm uma fé desmedida em deus(es)? Porquê?
Têm tão pouco, em comparação com o ocidente e não pedem mais nada e agradecem afincadamente o que têm. A Índia é um estado de contradição que a torna completa e oferece felicidade e paz interior a quem nela existe.
Mas o que é a Índia? O que é um país senão um conjunto de cultura, hábitos, pessoas e organização que o tornam único?
Então a Índia apresenta um conjunto e combinações especial destes aspectos todos. Nós que nela vivemos durante alguns dias das nossas vidas, também contribuimos para o todo que é o país, através de conversas, olhares, gestos, compras, discussões trocadas… Assim, sentimos que a Índia vive agora dentro das nossas memórias, dos nossos corações, das nossas vidas para sempre… e vai deixá-la ficar, não nos vamos esforçar para a afastar de nós porque nos faz felizes, mesmo não estando fisicamente nela presente, transmite-nos a sensação que tivemos nela… vivemos… tal como uma experiência que fazemos, e que mesmo que não a façamos de novo, a sensação fica em nós para sempre.
Assim vive e viverá a Índia nos nossos corações.
Sem comentários:
Enviar um comentário